Lobão é um cantor, compositor, escritor, multi-instrumentista, editor de revista e apresentador de televisão. Sua carreira musical é marcada por grandes parcerias; compôs sucessos como "Me Chama", canção muito famosa na voz de vários intérpretes, que ficou na 47ª posição das maiores músicas brasileiras, segundo a Rolling Stone, e "Vida Louca Vida", conhecida na voz de Cazuza. Apesar de ter surgido e conseguido sucesso no ambiente marginal e underground do rock brasileiro nos anos 1980, Lobão vem dialogando com diversos gêneros, como o samba, ao longo de sua carreira.
Como surgiu seu interesse por música?
Lobão - "Aos 6. Comecei a tocar bateria com 3 anos. Minhas primeiras incursões foram através de marchinhas de carnaval. Depois tive algumas aulas de acordeon. Me interessei por tocar violão, aos 13 entrei para a Escolinha do Maestro Guerra Peixe para estudar violão clássico e aos 16 iniciei minha carreira profissional no Vímana."
Em sua opinião, quais as diferenças entre o cenário musical de antigamente comparado ao atual, e os pontos positivos e negativos dessa mudança.
Lobão - "Havia um sistema que era comandado pelas grandes gravadoras. Havia a vendagem de discos que influenciava todo o mercado da música... Hoje em dia isso se pulverizou.
O ponto positivo é que nos livramos do jugo das gravadoras, o negativo é que virou uma terra de ninguém onde nada se destaca de verdade."
Na década de 90 veio à tona a chamada “Máfia do Dendê”. A seu ver, ela é real e de fato influenciou o cenário musical da época?
Lobão - "O Brasil vive um totalitarismo cultural (um pensamento monofásico sobre cultura e política) desde a "Semana de 22" que se agigantou a partir dos anos 60 quando Paulo Freire e Le Corbusier inventaram um "aperfeiçoamento" da música popular através dos DCEs elaborando os festivais estudantis com uma estética "mais sofisticada" de música de "povo". Daí surgiram o que Nelson Rodrigues apelidou com propriedade de "Revolucionário de Festival", aquele sujeito que vai cantar com violão sentado num banquinho as "agruras do povo". Foi assim que surgiu a tal sigla MPB. E a partir daí o tal totalitarismo cultural foi se tornando mais onipresente e opressivo. No final da década de 60, após vários festivais triunfais, uma participação confusa na marcha contra a guitarra elétrica, a Tropicália nasce meses após a patuscada. Com muitos protestos da esquerda os baianos acabam por ser inseridos na MPB e junto com Chico Buarque, Roberto Carlos e Milton Nascimento se tornam os coronéis da canção. Com o passar dos anos, a dupla baiana (Caetano e Gil) assessorados por suas respectivas esposas foram se tornando cada vez mais poderosos a ponto de ditar quem seria o próximo estouro do verão, qual o artista a ser apadrinhado, quem toca ou não no exterior, quem tem música ou não nas novelas de Globo, etc... Com um pequeno hiato nos anos 80, quando passaram a ser coadjuvantes no cenário musical brasileiro, vieram a retomar o poder nos anos 90 para assegurá-lo até os dias de hoje."
Como é viver de música no Brasil?
Lobão - "Eu diria que é bem difícil se você não é criativo ou não tem uma lei de incentivos."
Você sempre foi engajado em política, tendo um passado de esquerda e hoje voltado à direita. Como você analisa essas duas camadas do espectro político?
Lobão - "Meu passado começou absolutamente apolítico. A morte de Tancredo Neves eu soube através de uma manchete publicada no Planeta Diário. Só apoiei o PT por estar convencido de que o comunismo estava morto. Eu sempre achei a esquerda muito cafona, feia, borocoxô, impotente. Nos dias de hoje, apoio o Bolsonaro pelos mesmíssimos motivos que apoiei o PT: Ética na política, fim da corrupção, fim dos privilégios. Enfim, tudo que eu desejo é viver num país honesto e poder ter orgulho dele."
Música e política se misturam?
Lobão - "Sempre se misturaram. Vide Bob Dylan, John Lennon, Beethoven, Wagner, Chico Buarque, Racionais Mcs, Luiz Gonzaga, Jr.Joan Baez, etc..."
O que você espera para esse ano de 2019 e o que os fãs podem esperar em relação ao músico Lobão.
Lobão - "Um Brasil reinventado por completo. Em relação a mim, quero produzir um disco novo e realizar um festival de música independente de nível nacional para recolocar certos segmentos postos à margem de novo no mainstream.
Muito obrigado, Brina.
Um abraço!"
AAAAAAAAAAAAAAAAA aí sim!!!
ResponderExcluirO país precisa de outros nomes pro rock nacional (e música como um todo) e Lobão é uma luz no fim do túnel no meio de tantos artistas polarizados.
Sucesso!
Pai Lobão de Luanda. Cafonérrimo!
ResponderExcluirSempre um deleite !!!
ResponderExcluirMuito boa a entrevista. Direto ao ponto e sem rodeios.
ResponderExcluirOtima entrevista!
ResponderExcluirViva o Velho Lobo!
Cafonerrimo kkkl
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